Bas Jan Ader, Arara, Robert Barry, Lothar Baumgarten, Alighieri e Boetti, Marcel Broodthaers, Stanley Brouwn, Paulo Bruscky, Ernst Caramelle, Isabel Carvalho, Tacita Dean, Hans-Peter Feldmann, Ana Jotta, Fernando Lanhas, Charlotte Moth, Bruno Munari, Paulina Olowska, Adrian Piper, Ad Reinhardt, Dieter Roth, Allan Ruppersberg, Batia Suter, Richard Tuttle, Ricardo Valentim, Ben Vautier, Christopher Williams
Que sais-je é o nome da mais famosa enciclopédia de bolso. Fundada em 1941, esta coleção de livros foi pensada para fazer chegar ao grande público conhecimentos sobre as mais diversas áreas. Foram publicados, desde a sua origem, 3 800 títulos de 2 500 autores. O que é que estas publicações, além de alguns títulos dedicados a este tema, poderão ter a ver com a arte contemporânea?
Atlas, dicionários, enciclopédias – formas canónicas de armazenar e transmitir conhecimento – são modelos recorrentemente replicados (e parodiados) pela arte produzida desde as primeiras vanguardas do século XX. Este interesse liga-se à vontade de repensar aquilo que admitimos enquanto conhecimento, informação, comunicação.
Numa altura em que escolas, academias e aulas são modelos cada vez mais empregues por artistas e curadores, e em que formatos iminentemente pedagógicos – como a oficina, o seminário e a conferência – ocupam um lugar destacado em inúmeras exposições, esta exposição, apresentando livros e edições de artista produzidos entre a década de 1960 e a atualidade, permite perceber como estes meios sempre apresentaram perspetivas alternativas sobre aquilo que pode significar transmitir conhecimento. Obrigam-nos a pensar como a eficiência, a quantidade da informação, dos sistemas de comunicação colocam a arte e o gesto artístico perante o risco de serem identificados, categorizados e transformados em informação antes mesmo de terem tido a oportunidade de começar a ser arte – no fundo, como pode a curiosidade ser castrada pela informação.
As bibliotecas e os livros são depósitos de saber. Os livros de artista recusam a ligação entre conhecimento e palavra clara, autoritária, obediente às leis da ciência, na convicção de que a arte é um espaço onde não se ensina, não se aprende, mas onde se coloca em circulação o objeto que se há-de produzir, o caminho que se há-de seguir. O livro de artista vem complexificar as catalogações tradicionais da biblioteca, desorientar as suas leis.
Os artistas presentes nesta exposição questionam a relação do seu trabalho com modelos de transmissão de conhecimento – atestam-no o recurso à paródia de dicionários, enciclopédias, métodos pedagógicos, assim como uma deliberada destruição da informação veiculada por revistas e jornais. São pessoas que andam em busca de conhecimento, pessoas que circulam pelo lado menos prático da vida, pessoas que tentam inventar um mundo novo, mas que, ao contrário da tradicional associação entre saber e clareza, produzem objetos que não se preocupam em fazer-se entender imediatamente, motivados que são por uma forma de gerar ideias e de pensar distinta dos territórios intelectuais com que estamos familiarizados. Neles, a irónica alusão à ordem recorda-nos que, em arte, a confusão pode ser um facto verdadeiramente maravilhoso.
A exposição é comissariada por Ricardo Nicolau e organizada pelo Museu de Serralves, Porto, em colaboração com o CAPC - Museu de Arte Contemporânea de Bordeaux.
Imagem: Bruno Munari. Aconà Biconbi, 2007. Foto: Bettina Brach