Segunda sessão do ciclo de cinema, conversas e conferências Jean-Luc Godard, com a projeção de Filme Catástrofe (2018) e O Incomparável do Não Comparável(2019), ambos de Paul Grivas, e Filme Anúncio do Filme "Drôles de Guerres" (2023) de Jean-Luc Godard.

FILM CATASTROFE | FILME CATÁSTROPHE

Paul Grivas | FRA | 2018 | 55'

Feito dois anos depois de Filme Socialismo, em que Jean-Luc Godard utilizara o navio Costa Concordia como uma espécie de embarcação alegórica da sua crítica política, o cineasta Paul Grivas (que também colaborara na direção de fotografia desse filme) revisita a embarcação, após o seu célebre naufrágio em 2012. Combinando imagens da rodagem do filme de Godard e imagens captadas pelos passageiros do navio durante o desastre, este filme catástrofe não esconde a tragédia capitalista nem as evidências de uma Europa em desaparecimento.

L'INCOMPARABLE DU PAS COMPARABLE | O INCOMPARÁVEL DO NÃO COMPARÁVEL

Paul Grivas | FRA | 2019 | 8'

Acho sempre estranho quando acusam Jean-Luc Godard de fazer “filmes sem guião”. Pelo contrário, os seus guiões são extremamente precisos, tal como se mostra nesta curta-metragem. As imagens, muito semelhantes às que se usam num storyboard, provêm de diferentes guiões que Godard fez, como um artesão, durante a preparação da rodagem de Filme Socialismo. Para estas colagens, Godard usa todo o tipo de imagens fixas: lugares, atores, ensaios de guarda-roupa, jornais, publicidade, livros, etc. oferecendo detalhes sobre acessórios que serão necessários mais tarde (livros, roupas, etc.), dando-nos também uma ideia de como enquadrar e filmar cada plano. Jean-Luc Godard utiliza materiais muito rústicos para criar essas imagens: tesoura, marcadores, lápis, fotocópias… E muitos dos planos de Filme Socialismo acabaram por ser muito semelhantes a estas colagens de pré-produção (Paul Grivas).

FILM ANNONCE DU FILME 'DRÔLES DE GUERRE' (1er TOURNAGE) | FILME ANÚNCIO DO FILME "DRÔLES DE GUERRES"

Jean-Luc Godard | FRA, SUI | 2023 | 10'

A(s) História(s) do cinema também são as histórias dos filmes que nunca se fizeram. É com base neste axioma que Godard vai da página em branco ao esboço e finalmente até às pegadas mais concretas do seu filme que nunca existirá. Construído com base numa estratégia de colagem e citação, e sem descurar a importância da sua própria voz, que se foi tornando cada vez mais central desde o seu trabalho pós-Dziga Vertov, Godard não deixa de recorrer aos processos da linguagem cinematográfica – montagem, tempo, movimento, som – para originar o fantasma de um filme incorpóreo.