Canção Contemporânea

Obras da Coleção Mário Teixeira da Silva

Museu
28 NOV 2024 - 1 JUN 2025
2811 Canção Contemporânea

Canção Contemporânea é o título da exposição dedicada à primeira apresentação em Serralves da Coleção de arte contemporânea criada pelo galerista e colecionador Mário Teixeira da Silva (Porto, 1947—2023, Lisboa), recentemente depositada nesta Fundação.

 

Iniciada na década de 1970 e pautada pelo seu gosto pessoal, a Coleção reflete com clareza o modo de trabalho rigoroso e orgânico de Mário Teixeira da Silva e vai muito além da simples reunião de um conjunto de obras de arte. Os anos 1970 marcaram igualmente o início da atividade profissional de Mário Teixeira da Silva, oscilando entre o trabalho que desenvolveu como museólogo, contribuindo para a organização de exposições no Centro de Arte Contemporânea do Museu Nacional de Soares dos Reis, e o seu próprio projeto galerístico, a que deu o nome Módulo — Centro Difusor de Arte. Apesar do cruzamento óbvio de várias áreas de interesse na arte contemporânea, Mário Teixeira da Silva conseguiu sempre separar o papel de galerista do de colecionador, adquirindo obras que não estariam necessariamente no seu programa para o Módulo.

 

Inaugurado em pleno momento pós-revolucionário, em maio de 1975, o Módulo — Centro Difusor de Arte propôs-se como um espaço onde seria possível conjugar a atividade comercial com um programa de vertente cultural, pedagógica e de partilha. O objetivo era contribuir para a criação de uma comunidade mais esclarecida e conhecedora das tendências contemporâneas do contexto artístico, tanto nacional como internacional.


Na perspetiva de Mário Teixeira da Silva, a obra de arte deveria promover a reflexão e a investigação por parte do usufruidor. Analisada nos seus mais diversos aspetos, permitiria a construção de uma visão abrangente sobre as obras e os seus criadores. É nesse contexto que se pode assumir que o colecionador se revê no processo de criação de muitos artistas representados na sua coleção, nomeadamente no caso paradigmático da obra Contemporary Song [Canção contemporânea] (1984), de Franz Erhard Walther (1939, Fulda, Alemanha), que dá título a esta mostra.


A prática artística de Franz Erhard Walther sempre privilegiou a natureza processual na criação da obra, tratando-a não como um simples objeto ou imagem, mas como um sistema aberto de interação com o espectador, ativando assim todos os sentidos que se vão manifestando através do tempo, do espaço, da linguagem e da ação. Numa entrevista de 1993 a Alexandre Melo, o artista afirmou: “Desde os meus trabalhos dos anos 1960 que coloco a questão básica de saber o que é uma obra de arte. As peças que eu produzia então serviam sobretudo como instrumentos, o processo de utilização das peças é que permitia produzir a verdadeira obra. As peças eram um convite à participação ativa. É o espectador que, ao intervir, define a obra e não lhe é possível remeter-se à posição de mero observador.”[1]


A seleção de obras da Coleção Mário Teixeira da Silva agora apresentada nas galerias da Ala Álvaro Siza pretende refletir sobre a amplitude da ação desenvolvida ao longo de cinco décadas por Mário Teixeira da Silva. A fotografia foi o meio de expressão privilegiado pelo colecionador. No entanto, o seu âmbito é claramente multidisciplinar, expandindo-se em paralelo com outros meios — incluindo a pintura, a escultura, o desenho e a obra gráfica. Assinale-se também o interesse demonstrado em décadas mais recentes por outras áreas, como a arte tribal africana e a pintura oitocentista e modernista.


A presença na entrada da exposição da escultura Chantier II [Estaleiro II] (1992) do artista belga Wim Delvoye (1965, Wervik) remete-nos poeticamente através da imagem de um local em construção, um estaleiro, para as circunstâncias em que a coleção de Mário Teixeira da Silva se encontrava em janeiro de 2023, data em que o colecionador nos deixou: uma curiosidade insaciável, um alargamento do seu espectro cronológico e geográfico e um constante apuramento, tanto colmatando lacunas, como consolidando presenças estruturantes na sua Coleção.


A exposição reúne cerca de 185 obras de aproximadamente 109 artistas portugueses e estrangeiros: Canção Contemporânea pode comparar-se a uma partitura musical aberta onde a notação se fixa mediante o olhar do observador.


A exposição é organizada pela Fundação Serralves – Museu de Arte Contemporânea, com curadoria de Marta Moreira de Almeida, diretora-adjunta do Museu.


[1] Alexandre Melo, “Novas configurações”, in Expresso, 23 de outubro 1993.


Lista de artistas

Helena Almeida, Lewis Baltz, Pedro Barateiro, Tiago Batista, Bernd & Hilla Becher, Michael Biberstein, Frédéric Bruly Bouabré, Miguel Rio Branco, Bill Brandt, Elina Brotherus, Alberto Carneiro, António Carneiro, Pedro Casqueiro, Gérard Castello-Lopes, Lourdes Castro, Leda Catunda, Rui Chafes, Alan Charlton, William Christenberry, Larry Clark, Patrick Corillon, José Pedro Croft, Wim Delvoye, Philip-Lorca DiCorcia, António Júlio Duarte, Dejan Dukic, Jimmie Durham, William Eggleston, João Pedro Vale+Nuno Alexandre Ferreira, Larry Fink, Pollyana Freire, Lee Friedlander, Hamish Fulton, Jochen Gerz, Ralph Gibson, Nuno Gil, Nan Goldin, Andreas Gursky, Peter Halley, José Antonio Hernández-Diez, David Hockney, Candida Höfer, Zhang Huan, Axel Hütte, Graciela Iturbide, João Jacinto, Kenneth Josephson, Ana Jotta, Justine Kurland, Fernando Lanhas, Zoe Leonard, Fernando Lemos, Sherrie Levine, Carlos Lobo, Gonçalo Mabunda, António José Martins, Ana Mata, Allan McCollum, Cildo Meireles, Brígida Mendes, Lisa Milroy, Richard Misrach, Jorge Molder, Tito Mouraz, Vik Muniz, Mário Cravo Neto, Paulo Nozolino, Gabriel Orozco, Bill Owens, Bruno Pacheco, Victor Palla, António Palolo, Jack Pierson, Jorge Pinheiro, Pedro Portugal, Jorge Queiroz, Paula Rego, Rosângela Rennó, Miguel Ângelo Rocha, Joaquim Rodrigo, Manuel Rosa, Thomas Ruff, Sérgio Santimano, Julião Sarmento, António Sena, Stephen Shore, Augusto Alves da Silva, Marta Soares, Nedko Solakov, Ângelo de Sousa, Aurélia de Souza, Manfredo de Souzanetto, Joel Sternfeld, Beat Streuli, Wolfgang Tillmans, David Tremlett, Juan Uslé, Eulalia Valldosera, Adriana Varejão, Ana Vieira, Franz Erhard Walther, James Welling, Sue Williams, Francesca Woodman, Christopher Wool, Erwin Wurm, Rémy Zaugg.

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