Imagem: Agnès Varda, Pied de Nez, Autorretrato. Visages, villages - Paris atelier JR.
Agnès Varda (1928-2019) afirma ter tido três vidas: primeiro como fotógrafa, depois como cineasta e, finalmente, como artista plástica. Passando por cada uma dessas três modalidades, esta exposição testemunha o modo como a sua produção artística se desenvolveu em diálogo com a sua obra cinematográfica, sendo também representativa do modo como a realizadora se foi reinventando.
O contraste entre luz e sombra é, nesta exposição, o ponto de partida para revisitar polaridades constitutivas do trabalho da artista, como a tensão entre material e imaterial, entre real e imaginário, ou a desproporção entre motivos e formas que, muitas vezes, se traduz numa inversão de escalas entre a monumentalização do insignificante e a dessacralização do que se presta à reverência. As duas instalações aqui presentes, Une cabane de cinéma: la serre du bonheur (Uma cabana de cinema: a estufa da felicidade, 2018) e Patatutopia (2003) dispõem-se a um idêntico confronto: a falsa vivacidade dos girassóis e a deterioração das batatas, a imagem estereotipada da felicidade e a representação alegórica da velhice. Oposições que, em última instância, se acordam e sublimam num antagonismo entre uma crítica da inutilidade e os princípios éticos e estéticos da reutilização, do combate ao
desperdício e à obsolescência – em todos os sentidos: materiais, simbólicos, políticos, fílmicos e humanos.
Agnès Varda: Luz e Sombra marca o regresso da realizadora a Serralves, depois de aqui ter apresentado uma exposição em 2009. Nessa altura, Varda teve a oportunidade de se encontrar com Manoel de Oliveira, momento que a própria registou com a câmara de vídeo que sempre carregava consigo e que figura na série televisiva Agnès de ci de là Varda (2011). Essa sequência, onde vemos os dois cineastas a imitarem Chaplin enquanto se filmam um ao outro, serve de preâmbulo a esta exposição: um encontro em que jovialmente partilham as suas preocupações quanto ao cinema e à vida.
Curadoria de António Preto, Diretor da Casa do Cinema Manoel de Oliveira.
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TERMINADAS