A última conversa do programa Pas de deux reúne Isabel Braga – uma das curadoras da exposição Anagramas Improváveis – e Paulo Pires do Vale: filósofo, professor universitário, ensaísta e curador. Os dois discutirão as obras das artistas Lourdes Castro (Funchal, 1922–2022) e Joan Jonas (Nova Iorque, 1936) integradas na exposição, e que nela partilham uma mesma sala – convívio que denuncia a intenção dos curadores de nelas sublinharem características comuns.

O passado recente de ambos os curadores revela o seu interesse pela produção artística de Lourdes Castro: Isabel Braga foi curadora, em 2021, da exposição A Vida como Ela É: Lourdes Castro na Coleção de Serralves; Paulo Pires do Vale, antigo presidente da AICA (Associação Internacional de Críticos de Arte) e, desde 2019, comissário do Plano Nacional das Artes, comissariou em 2015, na Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa) a exposição Lourdes Castro. Todos os Livros, que reuniu um número muito significativo de livros de artista de Lourdes Castro. O ensaio que então escreveu para a publicação que acompanhou a mostra, assim como os seus artigos sobre Lourdes Castro publicados em diversos contextos (destaca-se aquele publicado no jornal Público aquando do desaparecimento da artista, “Lourdes, como respirar”) impuseram-no como um dos mais sensíveis e informados intérpretes da sua obra.  

Quanto a Joan Jonas (cujo trabalho foi apresentado numa grande exposição retrospetiva no Museu de Serralves em 2019), comummente apresentada como pioneira da arte vídeo e da arte multimédia, parece estar muito longe do trabalho manual, nada tecnológico de Lourdes Castro. E no entanto… Ambas as obras conferem ao desenho uma importância e um papel estruturante; ambos os trabalhos se ancoram numa atenta observação da natureza; ambas as artistas se dedicaram à performance (performance e “theaters” no caso de Joan Jonas, teatros de sombras no caso de Lourdes Castro); as duas conferem uma grande importância ao ato de colecionar – objetos, ideias e imagens, resultado de uma muito singular atenção ao mundo –, que dá origem a obras tão icónicas quanto os “cadernos” de Lourdes Castro. 

É exatamente em torno destas coincidências, mas também das irredutíveis singularidades de cada artista, que se desenvolverá a conversa entre Isabel Braga e Paulo Pires do Vale: Lourdes Castro e Joan Jonas como elas são e não são.